
já não anoitece, meu amor
a escuridão reformou-se
quando tu choraste
há quarenta e oito horas
que é dia
sabias que as searas
imitam os teus braços?
e as flores
a dança do teu ventre?
sopra uma brisa que agita
o chão do mundo
a natureza inteira persegue
o brilho das safiras
só disponível
nos teus olhos
enquanto a lua apodrece
ao meu lado
o mar arrasta
os destroços dos cometas
nos teus cabelos de prata
depois de ti
a eternidade
é um banco de areia
onde as orcas vêm acasalar
no dorso luzidio
espelham o retrato
do nosso amor
sem herança
*
obrigada, isabel, por me ter citado, bem haja, um beijinho
*
(fotografia de jaime silva)