eu gostava de dedicar este post a um desconhecido. mas não tenho coragem. ele veio aqui deixar um poema. talvez seja o único que aqui se publicou. e falou de deisy. mas eu vivi demais esses dois dias. e agora teria de morrer. antes de falar. vou dar um exemplo. durante meses eu li diálogos. era bom. mas faltava algo. aí eu conheci o autor. quando ele sentou a meu lado eu disse. tem olhos bonitos. e ele perdeu a garrafa de água. deixou cair o mar. é a vida, entende? você vai ao ballet e as moças fazem ondas. há quem chore a guitarra por ciúme do abraço. há quem molhe os pés na trovoada. há quem prefira o elevador. e é diferente. há versos nos degraus. através do vidro. o poema sobe. enquanto desce. toma uma bica enquanto finge. o sangue está sendo derramado na sala ao lado. mas você repara nas lâmpadas. usa a desculpa do tecto. para abrir o portátil. toma boleia com uma estranha. porque serralves merece. sem saber. vai a um recital de piano. sentir florbela espanca. na voz das sopranos. sem querer. abandona sua condição de leitor. o diálogo é uma cena de corpo presente. de repente percebe o amor. e reconhece a errância. a proveniência da solidão. ao escuro de uma noite. e tem pavor. entra em pânico. e sai de cena. evita o nuno júdice. é óbvio que fica triste. afinal é humano. procura adivinhar o que ele disse. e compra um livro. na esperança da serenidade. dedica um post. na tentativa de agradecer. sabe que não consegue. é impossível deixar cair o mar. é impossível escrever uma tempestade. ouve o piano tocando a guitarra chorando o vento assobiando o granizo batendo a florbela espancando e foge. o destino é a casa a casa é a madrugada. tenho frio estou cansada e sei que vou morrer. até amanhã, medo. até amanhã, moça.
*
(fotografia de berenika)
10 comentários:
absolutamente bom!!!!!!!!!!
_________________um texto que entra no mar.
puríssimo.
Li....
tão mas tão bem escrito.
obrigada.
(e esse desconhecido merece..)
Leio-te. Até onde irás com as palavras? Conseguirás fazê-las desistir de serem o que não são? Esta subversão encanta-me, sabes.
Até sempre, meu texto vivo.
Beijo.
Bom dia dona moça!!!!
Saudades de tu moça de belas palavras, que o tempo acabou afastando... De volta a casa, bela como sempre...
Palavras a bailar na tela pela forma mágica, saltando entre as idéias, criando e destruindo...
Não segues como um dia te li, segues melhor, mais apurada...
Belíssimo.
Beijos de saudade e desejo de uma otima semana pra tu
:***
Dos desconhecidos, vêm por vezes, as melhores surpresas. e dos textos, assim a apalpar terreno, também!
Até amanhã, moça! :)
Que frase tão tão familiar!
Beijinhos*
Tenho tentado ler-te, mas nunca, por nunca, entender-te. E tem esta tentativa tanto de “impossível deixar cair o mar”, como de “existir quem molhe os pés na trovoada”.
Encontro palavras deixadas “nos degraus”, à medida que desço e me vejo obrigado a subir, de novo, no texto.
Ler-te, sem querer abandonar a minha condição de leitor, é quase como tomar uma bica enquanto finjo que o faço.
Tenho frio, até amanhã
quando voltarmos a encontrar-nos num qualquer evento na fnac eu explico tudindo, sim? adorei a tua visita. obrigada pelo comentário, é muito bom quando alguém presta atenção. fui finalmente melgada ;) um beijinho.
> tenho um pé de planta no jardim
> ela tem um impulso para florescer
> tudo e todos ao seu redor
> mas ela é a primeira a florir
>
> dedicado à Aliece
Passei para ler como é meu costume, só não costumo comentar pq não sei..
Arte é ou não é.
Há novas do teatro?
;)
beijo amigo
Realmente, a Alica escreve muito bem. a poesia nunca cairá aqui. ficará sempre presente.
"é impossível deixar cair o mar"
esta expressão é maravilhosa.
um abraço poético
jorge
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