2006-12-15

dor sem rosto



antes. quando ainda éramos as plantas dos pés um do outro. e nos cegávamos de tanto rirmos. da chuva adormecendo pelo caminho. as paredes eram de carvão. e a janela. já esquecida. mergulhava no canto da casa. silenciosa. não sei se houve noite nessa noite. estás a arder. e ninguém te ouviu. passaste-me a saliva da tua boca. e os nossos dentes morderam-se. as costas fecham-se num grito. morrem-se-te os olhos. morrem-se-te os lábios. e sentes todos os beijos. e as fotografias. que soprámos. para dentro da memória. desfazem-se até à febre interior da tinta. e as gotas falavam pela torneira. que nunca se calou. enquanto a noite se ausentava. para dentro dos olhos. quando fazemos amor. engolidos pelo espaço. que separa cada dedo. um do outro. passam sempre duas horas da noite anterior. se ainda fosses deus. poderíamos queimar. todos os papéis brancos por falar.



*

(fotografia de frederic gailard)

11 comentários:

Anónimo disse...

A dor tem sempre rosto.

Até quando vai durar impunemente esta porca vergonha e se irá meter a Igreja católica na sacristia?

Josefa Pacheca Pereira

Melga do Porto disse...

Hoje ao ler-te, veio-me à memória os deliciosos “flippers” das festas populares.
A eles associei os teus “escritos” entre pontos (.).
Parece que lanças as palavras, como quem lança a esfera, e elas lá vão batendo nos pinos.
Pinos que se acedem e sons emitem à sua passagem.
Vão se “ajeitando”...
Vão sucedendo-se “as fotografias. que soprámos. para dentro da memória.”
E por lá ficam, a nosso belo prazer! Ainda bem.

alice disse...

boa tarde, melguinha. mais uma vez, muito obrigada. tens sido um óptimo leitor. fico muito contente que o meu post tenha despertado uma boa lembrança. um dia destes vamos jogar flippers juntos. e depois escrevemos sobre isso. o que achas? beijinho grande *

Anónimo disse...

Não é fácil escrever de forma tão fresca, tão própria..
Quando as palavras querem falar, pulam e dançam numa pista imaginária.
Tu és a pista, as frases os dançarinos...

Anónimo disse...

Adorei. Sempre a tua sensualidade mas desta vez mais mordaz e contida. Este final: "todos os papéis brancos por falar" é um achado.
Tudo de bom

alice disse...

querido poemar. é um prazer voltar a receber-te. muito obrigada pelo teu interesse e carinho. assim que possas, regressa com o teu link. para que todos possamos ler-te. um grande beijinho. bom fim de semana!

Alberto Oliveira disse...

teste 1,2,3.

Anónimo disse...

a intensa originalidade.


sempre tua. já reconhecível.




parabéns Li.....de linda....:))))


beijos




Piano.

Alberto Oliveira disse...

... mas já não sou. Regressei à condição de modesto e mero cidadão que não fuma e por isso nem fósforos nem isqueiro possuo.
Mas nem tudo são más notícias. Eis as boas: continuo a arder em febre e quem sabe se tão alta temperatura não chegará para queimar "todos esses papéis brancos por falar".
Aproxima-te e chega bem ao meu corpo uma folha; uma qualquer. Chega mais. Encosta-a ao meu coração; isso!Sinto o meu peito em chamas... mas a folha de papel nem a queimado cheira...


Uma coisa é a febre de sábado à noite. Outra, a temperatura da paixão...


beijos muitos.

MOLOI LORASAI disse...

raptaram o fim do meu poemínimo para Aliece...

alice disse...

querido chi kung. perdoe-me. fui eu que apaguei. por favor. aceite um beijinho envergonhado. volte, sim?