2006-09-12

tu em mim


a tua voz é de pele de pêssego
quando me ligas
deixa-me ouvi-la até ao caroço
porque é ao telefone
que os teus olhos falam





*


deve ser verdade, meu amor
estou a envelhecer
pela inclinação da luz
que as gruas despejam nas fachadas
percebo a burocracia das obras
que arrasa o teu coração



*


(Vou casar no dia 21 de Outubro. O meu pai mandou vir um fato do harrod’s e ligou ao fidel por causa dos charutos. A minha mãe fez-me o vestido e costurou-me a virgindade com anestesia local. Só eu conheço o impedimento a este matrimónio: o noivo.)

*

(fotografia de pedro rodrigues)



14 comentários:

Joaquim Amândio Santos disse...

Querida amiga,

este tríptico ousa erguer as fronteiras do inesperado para lá dos seus contornos.

um sabor perfeito. como os relâmpagos no meu céu.

kikas disse...

O 1º poema está lindo mas não vou comenta-lo. A voz minha amiga sem duvida deixa transparecer toda a nossa sabedoria, muito mais que as palavras, ela engana-nos até ao fundo da alma.

Anónimo disse...

ao telefone, os olhos nos vêem como gostaríamos...

Leonor disse...

tenho sido uma ingrata.longe da minha rotina afastei-me de tudo.
e que bom é estar de volta. um grande obrigado pela tua lembrança afável.
ja agora passeei pelo teu canto e vi que tenho andado a perder muito.
as fotos sao colocadas a rigor.os textos muito tem para decigrar.

beijinhos da leonoreta

Leonor disse...

decifrar.

enganei-me.

Anónimo disse...

Sempre é uma boa passagem esta, por aqui. Gosto dos teus escritos. Parecem riscados à alma...

Vanda disse...

Vou casar-me hoje. E amanhã também. Prometo não deixar solteira a minha noite a minha ansia o meu desejo. Prometo não deixar virgem a minha felicidade. O meu direito ao calor. A um corpo. A um abraço de alma.
Vou casar-me hoje. E amanhã Também.
Prometo todas as noites beber o nectar dos beijos e lamber o mel das palavras que alguem me dirá.
Prometo que nunca hverá saco do lixo para levar para a rua. Nem o enfado da rotina. Nem a perplexidade da compreensão no meu olhar, perante a frieza alheia. Prometo ter a mesa posta todas as manhãs e à noite, os sentidos postos na cama.

Serei feliz de certeza ;))

Beijo-te, Li :)

poeta_silente disse...

Lindo, tudo!
Amei ter passado por aqui.
Beijinhos
Miriam

Alisson da Hora disse...

oi, sempre linda...escrevi uma bobagem lá...passa e deixa a tua impressão...beijos...

Janelas da Alma disse...

Claro,

Mesmo quando eu deixo de ter desculpas por não vir aqui, apenas porque o trabalho me rouba o tempo, ou porque o arroz se pegava ao tacho...
Vejo que continuas a sorrir magia, e as palavras continuam a escorrer-te dos dedos com a graciosidade das asas de uma libélula...

Gosto muito de vir aqui, mesmo quando perco o destino, e me entorno por outros caminhos...

Beijos no teu coração, até breve, amiga,

Nuno Osvaldo

Anónimo disse...

Impossivel passar por aqui, levar tanto e não deixar nada. deixo-te hoje um poema de António Botto

Soneto

Se, para possuir o que me é dado,
Tudo perdi e eu própio andei perdido,
Se, para ver o que hoje é realizado,
Cheguei a ser negado e combatido.

Se, para estar agora apaixonado,
Foi necessário andar desiludido,
Alegra-me sentir que fui odiado
Na certeza imortal de ter vencido!

Porque, depois de tantas cicatrizes,
Só se encontra sabor apetecido
Àquilo que nos fez ser infelizes!

E assim cheguei à luz de um pensamento
De que afinal um roseiral florido
Vive de um triste e oculto movimento

António Botto

As tuas palavras são um roseiral florido...

Beijinhos,

Isabel

A disse...

E estas tuas palavras deixam-me ainda mais triste...

As incontigências de não se saber amado nem em voz de pêssego.

Não me casarei nem hoje nem amanhã.

Lá, o Adeus do Eugénio de Andrade...

Beijos

o alquimista disse...

De respiração suspensa fico quando te leio...tens uma forma de pensamento incomum e manuseias as palavras com o vituosismo de um solista...

Doce beijo

O Lápis disse...

Lápis destes há por aí aos montes ;) voam étão rapido que nem sempre são apnhados :))

Beijo