2006-12-09

o homem invisível



eu gostava de dedicar este post a um desconhecido. mas não tenho coragem. ele veio aqui deixar um poema. talvez seja o único que aqui se publicou. e falou de deisy. mas eu vivi demais esses dois dias. e agora teria de morrer. antes de falar. vou dar um exemplo. durante meses eu li diálogos. era bom. mas faltava algo. aí eu conheci o autor. quando ele sentou a meu lado eu disse. tem olhos bonitos. e ele perdeu a garrafa de água. deixou cair o mar. é a vida, entende? você vai ao ballet e as moças fazem ondas. há quem chore a guitarra por ciúme do abraço. há quem molhe os pés na trovoada. há quem prefira o elevador. e é diferente. há versos nos degraus. através do vidro. o poema sobe. enquanto desce. toma uma bica enquanto finge. o sangue está sendo derramado na sala ao lado. mas você repara nas lâmpadas. usa a desculpa do tecto. para abrir o portátil. toma boleia com uma estranha. porque serralves merece. sem saber. vai a um recital de piano. sentir florbela espanca. na voz das sopranos. sem querer. abandona sua condição de leitor. o diálogo é uma cena de corpo presente. de repente percebe o amor. e reconhece a errância. a proveniência da solidão. ao escuro de uma noite. e tem pavor. entra em pânico. e sai de cena. evita o nuno júdice. é óbvio que fica triste. afinal é humano. procura adivinhar o que ele disse. e compra um livro. na esperança da serenidade. dedica um post. na tentativa de agradecer. sabe que não consegue. é impossível deixar cair o mar. é impossível escrever uma tempestade. ouve o piano tocando a guitarra chorando o vento assobiando o granizo batendo a florbela espancando e foge. o destino é a casa a casa é a madrugada. tenho frio estou cansada e sei que vou morrer. até amanhã, medo. até amanhã, moça.



*



(fotografia de berenika)

10 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

absolutamente bom!!!!!!!!!!

_________________um texto que entra no mar.

puríssimo.


Li....
tão mas tão bem escrito.



obrigada.


(e esse desconhecido merece..)

Licínia Quitério disse...

Leio-te. Até onde irás com as palavras? Conseguirás fazê-las desistir de serem o que não são? Esta subversão encanta-me, sabes.

Até sempre, meu texto vivo.

Beijo.

Unknown disse...

Bom dia dona moça!!!!

Saudades de tu moça de belas palavras, que o tempo acabou afastando... De volta a casa, bela como sempre...

Palavras a bailar na tela pela forma mágica, saltando entre as idéias, criando e destruindo...

Não segues como um dia te li, segues melhor, mais apurada...

Belíssimo.

Beijos de saudade e desejo de uma otima semana pra tu

:***

manhã disse...

Dos desconhecidos, vêm por vezes, as melhores surpresas. e dos textos, assim a apalpar terreno, também!

Anónimo disse...

Até amanhã, moça! :)

Que frase tão tão familiar!

Beijinhos*

Melga do Porto disse...

Tenho tentado ler-te, mas nunca, por nunca, entender-te. E tem esta tentativa tanto de “impossível deixar cair o mar”, como de “existir quem molhe os pés na trovoada”.
Encontro palavras deixadas “nos degraus”, à medida que desço e me vejo obrigado a subir, de novo, no texto.
Ler-te, sem querer abandonar a minha condição de leitor, é quase como tomar uma bica enquanto finjo que o faço.
Tenho frio, até amanhã

alice disse...

quando voltarmos a encontrar-nos num qualquer evento na fnac eu explico tudindo, sim? adorei a tua visita. obrigada pelo comentário, é muito bom quando alguém presta atenção. fui finalmente melgada ;) um beijinho.

MOLOI LORASAI disse...

> tenho um pé de planta no jardim
> ela tem um impulso para florescer
> tudo e todos ao seu redor
> mas ela é a primeira a florir
>
> dedicado à Aliece

saltimbanco disse...

Passei para ler como é meu costume, só não costumo comentar pq não sei..

Arte é ou não é.

Há novas do teatro?

;)

beijo amigo

Anónimo disse...

Realmente, a Alica escreve muito bem. a poesia nunca cairá aqui. ficará sempre presente.

"é impossível deixar cair o mar"

esta expressão é maravilhosa.

um abraço poético
jorge