
o cadáver de hoje é um rapaz aos caracóis. suspeita de envenenamento. o antídoto é a poesia. um beijo na testa antes de abrir. sabe a chuva de novembro. cheira ao perfume de deus. tem uma nuvem escangalhada dentro da cabeça. e uma chave que abre a porta do céu. pendurada numa mola de estender a roupa. os olhos são limões com espingardas. o pescoço é um barco ao longe. os pêlos do peito são lírios ao vento. e desconfio que a pele é do fundo do mar. ver à boca de cena quantos sonhos tem nos dentes. ouvir o silêncio. a alma é o osso do coração. possível causa de morte: caixa torácica insuficiente. dada a proximidade pulmonar. o sangue veio a coalhar. leitos de rubis. um colar de beijos. nas falanges das mãos. começou a falar. não me espanta. é um génio.
*
(fotofrafia de augusto peixoto)