2006-05-07

envelhecimento precoce



agora
as águias ferem-me as trompas
deve ser do cheiro a lombrigas movediças
mas não é de luto que se veste o ânus
os bicos mordem céleres a pele e as presas
e o vento é homossexual quando me sento

agora
os ossos padecem de leite e cálcio
deve ser défice de magnésio e ouro branco
mas não é de cuspe que se temperam de véspera
os pénis encorajam a solidão para dentro
e o trajecto da bala é desfeito no hálito

agora
os duendes parecem matrículas caducadas
deve ser das fadas virgens que rareiam
mas não é ao escuro que rezam e choram
os anjos fodem melhor de luz acesa
e a falta de esperma é pomada e dor

agora
as borbulhas espremem rugas brandas
deve ser da queda capilar e genital
mas não é crime abortar amor às cegas
os olhos mentem mais trovoadas abertos
e a água cura a esperança do perdão

agora
os ratos comem os restos
(...)


*

(fotografia de ricardo tavares)

27 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

em ti as rugas nunca serão de trovoadas....só de chuva. intensa. como a que por aqui lanças. genialmente.



parabéns Li.


é muito bom. soberbo.


___________________e sim. está tudo bem. perfeito. :)

porfirio disse...

olá alice

sublime
e
.

e coragem é coisa que não te falta
;
mais: assim a natureza se expressa
sem
,(s)
no bocal das fontes sempre vivas no teu corpo
.

]bjo
-
te[

Anónimo disse...

escreva sobre as flores, a guirlanda que orna sua alma, a sua vida. O texto é dolorido, lindo, palpável.

Vanda disse...

que as trevas dessa falta de coragem -excesso de dor?- não impeçam que recebas o meu abraço.

o de sempre.

transparente de vontades.

és uma estrela que não quero cadente.

Van

Edilson Pantoja disse...

Oi, Alice! Tentei entrar durante o dia, mas não conseguia. Agradeço o e-mail, bem como a visita e comentário no Albergue, que, por sinal, manterá, em sua homenagem, as portas sempre abertas. Quanto ao poema, quão denso de acontecimentos é o presente - expresso no "agora", não?
Abraços de Belém!
P.S: Pois é, o que a tecnologia não fez com as distâncias!

AlucarD disse...

olá :)
cmg está tudo bem!!e ctg??
espero k esteja tudo bem...
lindo post.. gostei!!
beijos

Alberto Oliveira disse...

Rita Hirta acabou por pôr de lado o martelo e o formão. Ainda lhe faltava tanto para se desembaraçar de todo daquela capa de matéria cinzenta e dura que a aprisionava física e mentalmente, sentindo-se muito cansada.

- Vens para a cama hoje ou fazes serão?! E não me venhas com a maldita desculpa da dôr de cabeça. Olha que tenho necessidades!!
berrou Tomé Sempre-em-Pé.

- Só se tiveres um berbequim eléctrico entre as pernas, meu tarado!!
retorquiu Rita Hirta desalentada.


beijos muitos.

Sofia disse...

ola! agora andas por aqui? já tinha tentado ir ao outro e nao tinha conseguido. ainda bem que nao te foste. gosto de te ler.

bjs

diovvani mendonça disse...

Amiga Alice, bom saber que está morando aqui e amando palavras. E eu amo a junção e o ligamento que você, faz com elas. Outro dia, tentei acessar tua antiga casa e você não estava. Você é igual cigana nunca permanece no mesmo lugar não é? Bom receber suas visitas lá no "poeminhas..." Apareça sempre. Quanto ao seu poema belíssimo e percebe-se de cara que é mesmo de tua verve ousada. Abraço n'alma,
Diovvani

Paixão disse...

As tuas palavras são sempre de uma força crua e bela.

Fico à espera do fim... sei que o escreves brevemente...

Beijinho
Boa semana

Rui disse...

Que a coragem nunca te falte.

joão marinheiro disse...

OLá Alice. Faz tempo que não cruzo o rumo contigo, navego por outros mares, ou não navego. Excesso de vento nas velhas velas...
Já o tinha comentado, a tua poesia não aceita meios termos ou meios gosto. Ou se ama ou se odeia...
Tu sabes...Porque sentes, e as palavras saem como um grito ou uma brisa. A mim é igual, preciso de sentir o vento para navegar.
Amo as tuas palavras..." A água cura a esperança do perdão..."
Abraço em maresias e flores de sal...

Paulo Silva disse...

Querida Alice...
Obrigado pelas tuas lindas palavras colocadas no meu cantinho.
Tmbem tinha saudades tuas.
Julgo ter forças para agora continuar sem paragens.
Um beijo e bo semana.

aqui-há-gato disse...

Quando aqui chego faltam-me as palavras....
Sinto o chão tremer e perco os sentidos... um após outro!

Sinto q sou pequeno no teu castelo... neste das palavras cruzadas, e nos pensamentos vazios, e tão cheios!
és lava, és desejo...


O beijo

Medusa Azul (Zuli) disse...

estás aqui??! a amar palavras!!!

sabes, ensinas-me a amá-las também!!!

escreves genialmente! e eu quando for grande quero aprender a escrever.. :)

é impressão minha ou também és um pouco como o corpo do peixe? ;) quando pensamos que estás nas nossas pontas dos dedos.. paf! já não estás.. :) mas depois há o prazer a dobrar no reencontro.

p.s.: obrigada pelos comentários sempre calorosos :)

Misantrofiado disse...

...orgulhosos das suas virtudes cutâneas
Ritualizando o terror que foi antes do penso
Ratos são... tal como creatinina, na urina persistirão!

Anónimo disse...

alice, sua nômade virtual, feliz em reencontrá-la com suas palavras que a mim muito me tocam. que esta nova casa possa lhe ser um pouco mais durável. obrigado pela visita e por fornecer seu novo endereço. 1 beijo

Tetracloro disse...

Ganda poema Alice. Beijinhos Tetraclorados.

Vanda disse...

...ontem a meio da noite fui ao Peter's :) ...contigo :)

Perdemo-nos na conversa dos caminhos e acordamos às avessas das palavras. com sabor a maré cheia.

dessa que ha-de ser mar.

tambem o sinto, sim.

Um beijo

PS-obrigada :)

Janelas da Alma disse...

Olá Alice,

Mais um magnífico poema!...São os ângulos das palavras obtúsas que escreves, e forma como a luz encara os sons que dessas palavras saem, que me fascinam...
Beijos,

Nuno Osvaldo

Joaquim Amândio Santos disse...

R.I.P.

Rest(os) in peace...

mesmo aos bocados, colo-me inteiro ao que sou!

diovvani mendonça disse...

Alice, estou aqui para ver o restante do seu poema. Ainda não criou coragem? Vamos lá menina! Abraço, Diovvani.

Dani disse...

Poderão as palavras provocar dor física? Suscitas em mim a dúvida.

Gostei muito.

Beijos

alice disse...

dear anonymous,

thanks so much for your visit

i've been to your blog but couldn't leave a message there

hope u come here to read me...

i get all the photos i publish from internet (except the second one from the bottom, which is of a friend of mine)

i'd love to translate my text just for u... it would be really hard because of the meaning beneath it

anyway, i wrote about pain... about birds eating my utero... and wind on my ass... about fragile bones... how penis bring loniness inside me like a shoot of a gun... and about tale figures i don't believe anymore (end of inocence perhaps)... and i said "angels fuck better with lights on"... (...)

this is just a bit, i cant explain any better...

takecare,

alice

919 disse...

olá, Alice... escreveste sobre o nojo e o horror e, de forma alguma o que escreveste é um nojo... o que escreves não se interpreta, sente-se...
um beijo

Anónimo disse...

Ainda absorvendo as palavras, sigo...

Verdade sempre confunde, quem sempre esta acostumado com a mentira, palavras certas para olhos errados, assim aprendo sempre, adorei tudo, letra, palavras, pontos.

:*

Sílvio Mendes disse...

Nas mais próximas horas, grávidas de túneis, só dois graves acidentes.

1. Lilac Wine:
"Lilac wine is sweet and heady.
Where's my love?
Lilac wine, - I feel unsteady,
Where's my love?
Listen to me...
Why is everything so hazy?
Isn't that he, or am I going crazy?

Lilac wine, I feel I'm ready
for my love...
Feel I'm ready for my love."

2. Tu. tu, ser que escreves, tu.