2006-07-23

tatuagem




não te chamei
não te pedi
vieste
pela margem da fala
alice te abençoo
neste tremor de palavras aflitas
vejo-te na paz da escuridão
e não conheço o teu rosto
mas a palavra
essa entidade divina
é capaz de nomear um rosto
semear melodias
na surda ausência do grito
alice do país das ignotas maravilhas
alice dos mágicos amanheceres
tens em mim
a lágrima
o extremo do sorriso
e estas mãos suplicantes
que te abençoam
ao chegares anónima
à página em branco
onde começam todas as utopias
e a palavra ama
como uma boca sedenta de luz
quando a treva
ameaça com o seu olhar de sombra tombada
diz-me alice
que me queres à cabeceira dos sonhos
que me sonhas no prado polvilhado de estrelas
alice vem até mim
no doce ondular
da madressilva
a minha morada
cheira a tílias
e o meu sangue chama por ti
num fio de orvalho
mostra-me como pulsa a tua alma
inventa-me no presente
aloja-me no segundo coração
onde o passado a que pertencias
se transformou na fonte
cuja àgua limpida e primordial
apaga todos impossíveis
dá-te a conhecer na palavra mínima
vem até mim na nota máxima
(...)

*

autor: Alberto Serra