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A casa onde morei é um prato com espinhas na borda da vida. A solidão há-de habitar no meu retrato até se esquecerem do meu nome. Os meus netos hão-de tocar na solidão e perguntar: quem é? Nesse dia serei a avó.
O meu quarto tem um relógio especial que conta os anos do esquecimento. A amnésia será tão eterna como o amor escrito na pedra do meu epitáfio. É uma equação sem nexo que dura para sempre no meu retrato.
Os homens têm um país em cada braço e falta de jeito para correr antes que seja tarde. O sono é o lugar onde se hospedam sempre que enterram as mãos dentro de uma cidade. Todos adiam o cansaço para o Outono numa casa sem meia estação.
Um dia a minha filha dirá: hei-de ser mãe. As palavras são os anjos da guarda. O tempo há-de passar e reproduzir a sentença. É antes da alvorada que a leiteira vem com o sumo das vacas. Pousa a garrafa rente à porta da vida que ainda está a dormir. Os anjos levam o leite para dentro dos homens e guardam o prazo de validade. Os anos caminham dentro do prato sem misericórdia. Os homens levam o leite para dentro da minha filha. O sangue interrompe o castigo por outro rio branco que lhe aflui às trompas. Há-de ser no meu quarto à frente do relógio que o ângulo das pernas brotará netos. É a jusante da memória que nascem as crianças sem história. Os meus netos hão-de perguntar: de quem é o aquário? Um dia hei-de ser um cavalo alado para não ser uma avó solidão.
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terceira parte de (ensaio sobre) a ruína
34 comentários:
Mais uma vez, sem palavras.
Absolutamente apaixonado por estas mãos que escrevem. Mais uma vez, mais uma vez.
Amiga, onde estavas?!... não são garatujas o que escreves: literatura da melhor qualidade!!!
O que escreves em prosa me lembra a poesia intemporal de Manoel de Barros, um poeta matogrossense, brasileiro.
Um abraço fraterno.
Para quem?? :))
Está lindo o texto! Um pouco triste, um pouco a desfalecer para a solidão e com um gosto qb de amargura...ingredientes seguros para tocar o coração!
Retiraria a pedra do epitáfio (e o epitafio da pedra) e substituiria pelo fogo :))e por muita musica e rhum :)) só para aquecer a casa e enlouquecer a meia estação :))
porque há avós que não querem ser guardadas :))
porque há avós que não guardam aquários :))
só memorias de peixes :))
baloes. que voam :))
Kalimera, Alice!!
Beijo no coração pelo teu comentario lá!
vive, antes que as cortinas do velho teatro fechem a peça que foi triste e mal acabada... belo texto :)
beijinho
Miga bom fim de semana. Jitos e prometo vir comentar o texto
No dia em que as filhas forem mães e as avós mesmo avós o resto do Universo irá parar... esse momento será único...beijo querida (eu tenho passado por aqui - beber das tuas palavras já é um exercício obrigatório)... bom fds
bom então é assim: a Vanda merece. este sono este lugar esta cidade. estes anos este texto...mas está de castigo. e a menina também.....não há postes para ninguém....e como sei que "as meninas" gostam de ir Lá....agora pumba....acabou.se!!!!!.
mas este terceiro ensaio é de antologia.
prontos. beijos e abraços....
Deixas-me sussurar-te algo: Fa.bu.lo.so.
Adorei.
Ao coração.
a solidão é o eterno mal. tudo de bom
Improviso para uma rosa:
a flor do tempo é o teu perfume
tem a cor da lua e o teu nome
a flor do tempo efeita o acaso
dá beleza ao que será verso
a flor do tempo eu te trago
envolta em núvens de água
ou será apenas a chuva
na tarde em que te encontro
e o mundo se torna palavra
para que eu te diga o vento
e toque teus cabelos assim
porque suavemente acaricia
Que as asas não sejam de cera e permitam voar bem dentro de onde se quer chegar.
Bj
Mi bella Alice
La soledad no habitara en ti y no olvidaras tu nombre
Todo lo que la vida te da o se lleva es por algo, en algún momento tu vida será un oasis
Serás…una bella mujer con el cabello blanco…rodeada de nietos y llena de amor
Y tu epitafio lo escribirán ellos
Cada sueño se cumplirá
Las palabras a veces salen del alma cuando esta dolida por la vida misma
No cierres puertas, abre además las ventanas, que la vida solo te envuelva en amor, en ese amor que te mereces
Y recuerda algo, nunca estamos solos, los Ángeles siempre nos acompañan, siempre hay uno cerca
Mi bella amiga no soy sabia, solo siento desde mi alma las palabras que siempre digo y siempre doy mi mano amiga
Solo toma mi mano y déjate cobijar en esta bella amistad
Todos llevamos tristeza en el alma, la vida nos deja historia y esta queda y deja huellas
Mi vida ha sido también de tristeza y se me pierde la vida muchas veces, pero logro siempre de alguna forma abrazarme a ella
No hay que perder nunca la fe y la esperanza.
Aunque estemos en un desierto…siempre encontraremos un oasis
Y lo que hoy no llega, mañana llegara
Yo también sufro y la soledad también invade mi vida, pero cada dolor nos hace crecer más
Mis historia es larga, de a poco conocerás que no siempre sonrió, que aprendí a gritar en letras, que me envuelvo en amor…el que a veces solo roza, y que tengo sueños, tantos que ojala cumpla
Para ti mi cariño, mi abrazo y mi mano amiga
Para ti esperanza y mil sonrisas
Para ti un arco iris y te envuelvas en mil colores
Y que sea un bello fin de semana
Besos y sueños
Alice, minha querida, minha ausência se deu porque entre quinta e sexta-feira, viajo para a cidade por causa da pós graduação. Lá, eu fico sem internet, sem nada.
Além disso, durante os dias que antecederam minha viagem à Feira de Santana, estive envolvida com a seleção de textos para publicar no Civilizados, projeto do Selva. O Civilizados foi criado, visando publicar textos de convidados e divulgar o trabalho das pessoas que estão produzindo literatura.
Se quiser fazer uma visita, o endereço é:
http://civilizados.naselva.com
Estive lendo seu texto e fiquei pensando sobre esse temor da perpetuação. Dar vida a um ser em um mundo doente, minado, sujo. Pensei também na solidão, no destino da existência tendo como única companhia o reflexo no espelho. Somos uma geração com medo de dar a vida e de viver.
Beijos, linda.
Jana
Alice,
Que posso eu dizer?
Neste momento, apenas, que me emocionei com a leitura do teu texto,belas, sentidas e fortes palavras...
Linda homenagem...
Aquele beijo Maresi@
Ola ...
Por quantas e quantas vezes quero vir aqui e me sentir assim no paraíso das palavras...
Esse (ensaio sobre) a ruína esta dolorido, mais está poético que ele próprio fala a alma... Leva a mensagem diretamente...
É bom de se ler, se recordar, de sentir suas idéias...
"Todos adiam o cansaço para o Outono numa casa sem meia estação."
Perfeito de mais flor de alem mar... Linda...
Ótimo fim de semana pra tu...
Beijos do coração
:****
A solidão nem sempre é um mal.
Ela tem sido a minha companheira desde que me entendo por gente.
Esta terceira parte do ensaio é a que fala ao meu coração de água e sal.
Beijos de Sal
Li !!!! Ficas de castigo!:) Não gostar como???
Gostar é pouco e tu sabes que me tocou :) de outra forma não teria ateado o "fogo" :))
Tambem não sei o que teria feito :)) mas gostei, conseguiste transpor para o papel a essencia do porquê das alas :))
e porque hoje é sabado :)) dois beijos :)) mais contente agora???
Van
Tentamos dar um sentido á vida prever o futuro mas tudo é transitorio, quem sabe o que nos espera.
como estou a gostar do que vais escrevendo
beijinhos de bom fim de semana
"A casa onde morei é um prato sem espinhas na borda da
noite tremendamente pintada de negro onde tu não estás e o equídeo me olha surpreendido pois embora o odor de fêmea lhe suba às narinas não tenho cauda nem crina. vem depressa e habita-me.
Rosa Maria fechou o sobrescrito com uma lambidela e lançou-o ao céu; depois calçou-se.
beijos imensos.
Sempre respiro beleza quando passo por aqui :)
Beijinhos e bom domingo
Ufffff...de cortar a respiração...o nome do teu blog faz jus, sem dúvida, à sua autora.
Beijinho
FELICIDADES POR PORTUGAL
gracias por tus saludos, me alegra saber que ganaron
mi abrazo desde el ultimo lugar del mundo
PORTUGAL...FELICIDADES
un abrazo y a disfrutar el triunfo
besos y sueños
nem lembrança houvera. só memória visceral, inscrita, líquida, pregnante. então, na nudez surda, esta voz rasga o silêncio. desfeito o corpo, o brilho da palavra anuncia-te, -nos. comovido beijo, rasgando.
Este texto deixou-me completamente arrepiada!
Li algures que "...passamos pelo palco da vida, assim aproveita-o antes que a cortina se feche..."
Meus parabens, o primeiro texto foi amor á primeira vista, mas este não lhe fica atrás.
As palavras passaram para o outro lado do espelho, ao encontro de Alice. Beijos.
A solidão sempre nos acompanhará e aos outros e outros que depois vierem. Apesar do Amor ou talvez por ele. É um cavalo sem freio, é, Alice.
"Bastardia" da Hélia Correia: uma história belíssima mergulhada nos domínios do poético e do fantástico. Penso que, ao lê-la, te sentirias em casa. Claro que posso estar redondamente enganada. Só tu saberás.
Não tens que me agradecer nada. Nunca mais. OK?
Muitos beijinhos.
Licínia
Por vezes temos de nos isolar...faz bem...
bjnhs doces
boa noite alice
:
palavras para quê?
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gosto quando sorris fecunda
.
bjo grande
e
dorme bem
O tempo passa e perdemo-nos nas palavras que medem o tempo... ou talvez não...
Obrigada pelas visitas atenciosas.
Um dia terá de acabar a solidão e a tua casa encher-se de luz e de risos... cristalinos de crianças, duros de adultos que teimaram em fechar o coração e os olhos!
Gostei do teu ensaio.
Tive pena de não te ver no sábado passado!
Vai ser uma eternidade até Setembro!
Aquele abraço,
cronica de sabado: sem net a maior parte do tempo e sem bateria no telemovel :))
tu sim és especial.
como todos os codigos de barras, guardioes de segredos doces :)
no breve despontar da manhã!
beijos. muitos.
Van
Alice, quanta beleza, quanto lirismo, quanta capacidade de suepreender, menina!!! saiba, que fico mesmo, ma-ra-vi-lha-do, com você. Emocionado ABRAÇO,
Diovvani.
O túnel profundo e escuro longe de ter um fim permitindo o extinguir da percepção do real e da ficção, tornando o barulho como entrave para o seu desenvolvimento precoce.
Voltando ao contacto da espécie humana é fácil de distinguir o que se torna a trapalhada das vivências ocasionais de pleno terreno.
A consequência da verdade pode ser a falha de uma vida inteira de evasões de conflitos que transformam o ser num imaturo e complemento dependente de outrem. Ao estabelecer as margem de manobra da situação de filtragem da ocasião e da paixão de universo resplandecente da liberdade da vida.
Logo se inicia a vida da satisfação e glorificação da alma que se irradia a luz da solidão.
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